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Competitividade produtiva na moda: o caso da Ásia

por Vivian Berto de Castro

Na nossa série modelos de produção de moda, em que descrevemos como determinados países desenvolveram suas redes produtivas da indústria da moda, falamos dos modelos de produção francês e norte-americano.



Enquanto o primeiro baseou-se na criatividade de grandes costureiros, o segundo “inventou” o ready-to-wear e a moda em escala. Essa semana vamos falar sobre o modelo de produção de países como China, Bangladesh, Índia e tantos outros – vamos chamá-lo, grosso modo, de modelo de produção “asiático”.


Este modelo tem a ver com a forma de crescimento desses países, que apresentaram um boom no final do século 20 e início do século 21. Tornar-se produtores de manufaturas a preços muito baratos, consequentemente muito competitivos, é a forma de gerar emprego para esses países muito populosos e com intenso êxodo rural e crescimento das grandes cidades.



Tornar-se produtores de manufaturas a preços muito baratos, consequentemente muito competitivos, é a forma de gerar emprego para esses países muito populosos e com intenso êxodo rural e crescimento das grandes cidades.

A produção com menor custo aumenta a competitividade das empresas que mandam sua produção para os países asiáticos; principalmente para o fast fashion (mas não só, é importante ressaltar), que precisa de produção em larga escala, muito rápida e a custos muito baratos.



Fernanda Ly clicada por Patrick Demarchelier para a Vogue China. Julho de 2016.

Como se desenvolveu o modelo asiático


Começa lá nos anos 1950 e 1960, quando a produção de vestuário de países industrializados, para diminuir custos, passa a ser realizada na Ásia – na época, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan. Com o tempo, esses locais foram aumentando sua expertise na indústria de confecção, aumentando também o valor agregado e subindo os preços para as empresas europeias e norte-americanas. Além disso, a estabilização desses locais e o crescimento da classe média não suportava mais salários muito baixos – que é o ingrediente principal que esse modelo exige.



Já no final dos anos 1970 e início dos 1980, novos focos de mão de obra barata surgiram na Ásia, a saber: China, Tailândia, Malásia e Vietnã, principalmente. Bangladesh seria outro grande foco da indústria do vestuário, especialmente popular nos últimos anos. E, é claro, entram Índia, Indonésia, Camboja, Paquistão, dentre outros.


A forte participação dos governos locais na economia e na indústria foi um dos fatores para o desenvolvimento desse sistema – e para seu pico bem-sucedido, levando o crescimento do PIB de alguns países a dois dígitos, ou quase isso, entre 2004 e 2011.



Para o futuro


A crise recente desses países asiáticos e desaceleração do crescimento (que ficou na casa dos dois dígitos por muito tempo) tem razões tanto internas quanto externas.


Os fatores são vários: o altíssimo investimento estrangeiro na região criou empréstimos a curto prazo e endividamento; pouca fiscalização e corrupção, a excessiva confiança dos líderes asiáticos no mercado e as complicações políticas – o alto crescimento econômico deixou de lado a resolução de conflitos internos desses países, como por exemplo a China “continental” (a RPC) e Taiwan e outras ilhas (que formam a RC) – são os motivos apontados neste artigo. Um modelo de crescimento muito acelerado, que não mediu algumas consequências e pode pagar o preço a longo prazo.



Um modelo de crescimento muito acelerado, que não mediu algumas consequências e pode pagar o preço a longo prazo.


Ainda assim, a produção asiática não vai diminuir tão cedo: a indústria norte-americana, por exemplo, vê como solução aumentar sua produção na Ásia para cortar custos em momentos de crise. A China é um dos únicos países que apresenta decréscimo nas exportações para as grandes empresas ocidentais, em grande parte por causa do custo maior em relação a países como Bangladesh e Vietnã. O alto crescimento da China nos últimos anos fez nascer uma classe média estável e uma classe alta extremamente consumista – não à toa, o consumidor chinês é a menina dos olhos das grifes europeias.



Outros locais, ainda, competem pela produção em larga escala a preços baixos, como a região do Caribe. Países da África (como Etiópia), por outro lado, são os novos países produtores que entram no “modelo asiático” e competem com os produtores tradicionais.



O que o Brasil tem a aprender?


Para o Brasil, o modelo de crescimento asiático não seria um bom exemplo. O país tem, no momento, leis trabalhistas fortes e, embora algumas concessões tenham sido feitas nos últimos meses, seria um retrocesso imenso tirar da massa trabalhista do Brasil seus direitos obtidos ao longo da história.


Competir com países asiáticos em questão de preço não é, obviamente, o posicionamento mais estratégico. Como nós, da Tendere, já falamos em várias posts tanto no setor de vestuário quanto no de semijoias, e também em várias palestras Brasil afora e Seminários de Tendências, há outras maneiras estratégicas de competir. Além disso, já que fazemos parte de uma economia global, devemos não apenas olhar países como a China como concorrentes, mas também como mercados receptores para os produtos brasileiros. Quanto mais a economia chinesa e de outros países asiáticos cresce e se estabiliza, mais cresce o mercado interno e as oportunidades de exportação para esses locais.


Para ler:


Stefania SAVIOLO e Saulo TESTA. La gestión de las empresas de moda.



post revisado em dezembro de 2018.

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